Por algum motivo obscuro, o pessoal que criou os nomes no mercado financeiro decidiu chamar os títulos de crédito públicos, privados e bancários de “renda fixa”. Agora, cabe a nós, que produzimos conteúdo a respeito, explicar insistentemente que de fixa, a renda não tem praticamente nada.

Sim, certas coisas são fixadas no momento da sua compra – seja um percentual do indexador ou a própria taxa paga anualmente. Mas precisava mesmo chamar um investimento cujo preço pode oscilar mais que ação da Bolsa de “renda fixa”?

Em agosto, o Tesouro Direto deu mais uma prova de que essa nomenclatura poderia ser melhor, com preços dos títulos públicos desvalorizando até 9,5% em apenas um mês e investidores conservadores entrando em pânico com seus respectivos saldos derretendo. Não era para ser fixo?

A tabela abaixo, via InfoMoney, retrata o “drama”. Ela mostra que uma pessoa que comprou títulos públicos em 01/08 e vendeu em 31/08 perdeu até 9,45% do valor aplicado.

Por que isso acontece?

Quando você compra um título do Tesouro, sabe exatamente quanto ele vai valer no dia do vencimento.

Suponha que você investiu em uma LTN (Tesouro Prefixado) fictícia com vencimento daqui dois anos (09/09/2022). O preço unitário desse papel nessa data vai ser sempre o mesmo: R$ 1.000. Então, se você comprou por R$ 900 hoje, para chegar a esses R$ 1.000 em exatos 2 anos, a taxa prefixada oferecida neste momento precisa ser de aproximadamente 5,4% a.a.

Mas o governo não tem total poder de decisão sobre a taxa que oferece para os seus títulos de dívida: ela precisa corresponder ao que o mercado está disposto a aceitar.

Como os títulos públicos são contratos de empréstimo de investidores ao governo brasileiro, quando a desconfiança sobre a capacidade de pagamento do governo brasileiro aumenta, as taxas oferecidas para esses empréstimos precisam aumentar junto. Afinal, quanto maior o risco que você julga correr, maior a compensação financeira que irá exigir para emprestar.

Se, por conta de uma maior desconfiança dos investidores, no dia seguinte a taxa dessa mesma LTN com vencimento em 2022 passar de 5,4% a.a. para 6% a.a., esse título não pode valer 900 hoje – porque isso significaria valer mais de R$ 1.000 daqui dois anos.

Para chegarmos em R$ 1.000 em 2022 com uma taxa de 6% a.a., a LTN precisa ser vendida por R$ 889,99 – e assim, como num passe de mágica, o título de “renda fixa” que você comprou ontem por R$ 900 hoje vale R$ 10 a menos, ou uma desvalorização de mais ou menos 1%

É por isso, em resumo, que quando a taxa de juros sobe, os preços dos títulos caem, e vice-versa. Em 2019, teve título do Tesouro valorizando até 58% – o Ibovespa, comparativamente, subiu 31,58%.

Por que isso aconteceu, especificamente agora?

Pelo mesmo motivo que a bolsa caiu no último mês depois de 3 meses de altas. Agosto, como sabemos, foi um mês repleto de ruídos sobre a situação fiscal do Brasil. Cada nova notícia sobre o aumento do endividamento do governo ou a possibilidade de furo no teto de gastos aumentou a desconfiança dos investidores sobre a capacidade pagadora do Tesouro Nacional – assim como as notícias no sentido contrário diminuíram essa desconfiança pontualmente.

No final, o saldo foi uma alta das taxas pagas pelo Tesouro Direto no mês de agosto e a consequente queda nos preços que mostramos naquela tabela.

“Socorro!”

Antes que você desista para sempre de investir no Tesouro, volte duas casas e leia de novo a frase que falamos alguns parágrafos acima: “quando você compra um título do Tesouro, sabe exatamente quanto ele vai valer no dia do vencimento”.

Se a pessoa do nosso exemplo, que comprou um título a R$ 900, não vender esse papel quando ele passar a valer R$ 890, no dia do vencimento ela vai receber exatamente os R$ 1.000 combinados desde o começo. Essa é a parte “fixa” do Tesouro.

Em outras palavras, se você não tiver nenhum interesse em usar títulos do Tesouro para especular, o melhor a se fazer é simplesmente esquecer que investiu até o momento de ele voltar para a sua conta.

Por outro lado, esse título também nunca vai pagar mais do que R$ 1.000. Se, em dado momento, essa pessoa vir seu título valendo R$ 999 antes da data de resgate, é sinal de que ele não tem muito mais para onde ir – e pode ser que isso aconteça. Nesses casos, faça as contas do imposto de renda, veja as taxas atuais de outros investimentos compatíveis com o seu perfil e avalie se não é mais vantajoso colocar esse dinheiro em outro lugar.

Só para não esquecer: investir no Tesouro com a Rico é sem taxas. Acesse aqui a sua conta.

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