- O litro do leite mais barato do que o litro da gasolina?
- Não é fake news, e a explicação passa pela inflação global, a guerra na Rússia e a redução de impostos pelo Congresso.
- Confira como chegamos aqui e o que esperar para o nosso leite (e gasolina) de cada dia.
Não, @pretademaiss, você não está sozinha nessa “sofrência” pelo preço do queijo! De fato, de acordo com o nosso principal indicador de inflação do país (o IPCA), o preço do queijo subiu 27,3% nos últimos doze meses até julho.
O motivo principal por trás dessa alta não é que todos nós resolvemos comer muito mais queijo do que normal, e fazer fondues para acompanhar a onda de frio em boa parte do país. E sim, a alta do preço de seu principal ingrediente: o leite.
Acumulando alta de 66,5% nos últimos doze meses no país, o valor médio do litro de leite UHT (o famoso leite longa vida) alcançou R$ 6,79 em julho na cidade de São Paulo – segundo dados do Procon-SP.
É verdade que esse tipo de leite não é o mesmo usado na produção de outros produtos, como o queijo consumido pela influencer e por nós, reles mortais. Mesmo assim, a situação de elevação de preços pouco se altera se olharmos de maneira mais ampla para “leite e derivados”, que registram alta acumulada de 41,2% no período.
Leite mais caro que gasolina?
Ao mesmo tempo em que assistimos à alta do preço do leite, os últimos meses também foram marcados por uma queda significativa do preço de combustíveis no país, em especial a gasolina.
De fato, o preço da gasolina registrou deflação de 15,5% em julho, atingindo o valor médio por litro de R$ 5,35 na cidade de São Paulo no mesmo período (e R$ 5,40 na média do país).
Assim, chegamos a uma situação nada comum: o litro do leite ficou mais caro (em média) do que o litro de gasolina!
Por que o leite subiu?
Como tudo em economia, a recente queda no preço do leite não pode ser explicada por um único motivo. Nesse caso, podemos separar as principais razões entre: questões que já estavam presentes na indústria de laticínios no Brasil (e levarão mais tempo para serem revertidas), e questões relacionados ao cenário recente que se somaram a essas.
Olhando para as razões estruturais, a produção de leite no Brasil vem enfrentando fortes reduções nos últimos anos, por conta das margens baixas e da dificuldade no repasse da alta dos custos ao consumidor final. Em outras palavras: é um produto relativamente caro de produzir, mas sem grandes diferenciações possíveis para o consumidor, o que torna mais difícil obter maiores retornos.
Isso, por si só, já responde por parte da alta do preço observado nos últimos anos. Afinal, com menores incentivos econômicos para produzir, a oferta do produto cai, e o preço sobe.
Nesse cenário, adicionamos os fatores de curto prazo, relacionados com a conjuntura recente. Como contamos aqui em detalhes, uma das principais consequências da pandemia e dos estímulos criados para enfrentá-la foi a alta dos preços no mundo, especialmente de bens básicos, como alimentos. A guerra entre Rússia e Ucrânia (dois grandes produtores de commodities) piorou ainda mais a situação, por reduzir a oferta ao mundo.
Assim, com o preço de insumos usados na alimentação do gado subindo (como soja e milho), muitos produtores passaram a racionar ração. Com menos ração, reduziu-se a oferta de leite. Com menor oferta, o preço subiu ainda mais. O resultado é ilustrado no gráfico abaixo, que mostra a forte queda na captação de leite no país desde o início do ano.
Por que a gasolina caiu?
Primeiro, a gasolina subiu
A gasolina passou o último ano em substancial alta de preços ao redor do mundo, por conta da elevação de sua principal matéria prima: o petróleo.
Os motivos por trás do salto observado no preço dos combustíveis foram, em grande parte, os mesmos observados em outros insumos básicos: desequilíbrios na relação entre oferta e demanda por bens e insumos básicos causados pela pandemia; e a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Porém, diante da magnitude e importância da produção russa de combustíveis no mundo, e da redução recente de investimentos no setor, o choque no preço do petróleo foi ainda maior.
O Brasil não foi exceção a esse movimento de alta, e a gasolina chegou a registrar alta de 50% em novembro de 2021 (no acumulado em doze meses), desacelerando 26,9% em junho de 2022. Vale lembrar que a desaceleração da inflação não significa que o preço caiu; e sim, que passou a subir um pouco mais devagar – e nesse caso, ainda bastante rápido.
Depois, a gasolina caiu
A queda significativa do preço da gasolina aos consumidores nos últimos meses se deu, principalmente, por conta da redução de impostos aprovados pelo Congresso e pelo governo na tentativa de reduzir o impacto da alta dos combustíveis no poder de compra das famílias. Afinal, não podemos esquecer que transportamos quase tudo em caminhões no Brasil.
O resultado foi a queda de 15,5% no preço da gasolina em julho.
Porém, movimentos recentes do cenário internacional também passaram a ajudar. Isso porque perspectivas de que o mundo crescerá menos esse ano (com algumas regiões enfrentando recessões econômicas) passaram a enfraquecer o preço de commodities no mundo, como podemos ver no gráfico abaixo.
Para se ter uma ideia, o preço do barril de petróleo (Brent) caiu de US$ 127,2 no início de junho para US$ 99,8 em 22 de agosto. Essa queda nos preços internacionais deu espaço para cortes nos preços aqui dentro por parte da Petrobrás (que determina o preço dos combustíveis no país, como explicamos aqui).
E, assim, chegamos ao preço médio de R$ 5,40 por litro de gasolina no país em 14 de agosto (de acordo com dados da ANP).
O que esperar? Leite para baixo, gasolina para cima
A boa notícia é que o preço leite deve cair em breve, se estabilizando. Apesar das questões estruturais que falamos acima ainda prejudicarem a indústria de leite no país, os efeitos de curto prazo já começam a perder força, dando espaço para quedas no preço no atacado – como vemos nos gráficos abaixo.
Assim, a expectativa é que essa queda seja sentida em breve pelos consumidores finais.
Já para a gasolina, não devemos ver mais reduções no preço tão cedo.
Do lado doméstico, porque não devem ser aprovadas mais reduções de impostos; no cenário internacional, porque há certa expectativa de que o preço do petróleo ganhe força novamente próximo ao final do ano – por conta da chegada do inverno no hemisfério norte, quando aumenta o consumo. Assim, esperamos um reajuste de +5% no preço da gasolina no último trimestre do ano.
Investindo com a inflação a seu favor
Nesse cenário de inflação alta, proteger os investimentos torna-se mais essencial do que nunca. Títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA + 2026, debêntures de empresas sólidas e boas classificação de risco, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas.
Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Além disso, há maneiras de encontrarmos oportunidades nesse período. Confira aqui nossa seleção de ações e BDRs que se beneficiam de momentos de inflação forte.
Por fim, vale lembrar que os ativos reais também ficam especialmente interessantes nesse momento. Esses ativos costumam ter seus preços reajustados pela inflação global, representando uma posição estratégica contra a alta de preços e diante dos desafios nas cadeias de produção globais. São exemplos de ativos reais as commodities minerais e agrícolas, e metais preciosos. Uma alternativa simples para acessar esses investimentos é por meio do eTrend Ativos reais.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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